terça-feira, 10 de julho de 2012

09 - Não somos a igreja do livro!

A Igreja Católica, desde as suas raízes, é cheia de tradição, e isso todos sabemos. O que muitas pessoas parecem não ter conhecimento é que toda a fé professada pela Igreja vem da sagrada escritura e da sua tradição. Foi Fundamentada sobre estas duas colunas que ela pode assegurar durante mais de dois mil anos a integridade dos escritos que hoje compõem a Bíblia. No entanto, muitos irmãos protestantes nos acusam de dar mais importância à tradição da Igreja do que à Bíblia, dizendo que se algo não está escrito então não deve ser seguido. Mas será que foi sempre assim? Será que sempre tivemos os escritos à nossa mão? Será que era simples conseguir esses manuscritos que preservavam fatos importantes da história do homem e da sua relação com o Criador?

Primeiramente, vamos observar um fato sempre ignorado ou distorcido pelos protestantes, o fato de que a Igreja de Cristo nasceu sob a cidade de Roma, nas catacumbas romanas! A cidade de Roma não foi escolhida ao acaso para ser a cidade sede do catolicismo. Há algo de muito precioso a ser lembrado, o fato de que Pedro e Paulo sofreram seu martírio naquela cidade. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo num circo montado por Nero fora da cidade de Roma, exatamente sobre o qual hoje está o Vaticano. Lá está o que é considerado desde os primeiros séculos como o troféu dos cristãos: os túmulos de São Pedro e São Paulo, as duas colunas sobre as quais fundou-se a Igreja! E sob aquele terreno, estão as catacumbas, que se estendem por toda a Roma. Mas o quê são essas tais catacumbas e o quê há de tão especial nelas?

As catacumbas são uma espécie de cemitérios comunitários, onde eram enterradas as pessoas que não tinham dinheiro para um túmulo especial. Inicialmente eram enterrados apenas pagãos, porém, com o crescimento do cristianismo, os cristãos também passaram a ser enterrados ali. Essas catacumbas serviam como locais de encontro entre os primeiros cristão para rezar, já que não se podia fazer isso em público, pois eram perseguidos pelo império romano. Nas lápides dos túmulos, ainda hoje, podem ser encontrados desenhos de símbolos que sinalizavam que naquela cova havia um cristão sepultado. Símbolos como a letra P (rô) e X (qui), que juntas formam as duas primeiras letras de "Christus" em grego, estão desenhadas, assim como o peixe, símbolo da fé cristã. Também podemos encontrar grafites que remetem à imagens de pessoas orando, à Santa Ceia, ao Bom Pastor, aos milagres de Jesus e à Maria Santíssima, imagem esta considerada a mais antiga representação da Virgem e datada por volta do século III. Os familiares dos mortos também escreviam nas paredes frases como "Pedro e Paulo, lembrem-se de Artur" ou "Pedro e Paulo, olhai por nós". Aqui, podemos rebater de cara três objeções mal fundamentadas dos protestantes: a representação da revelação divina por imagens, a de intercessão dos santos e a importância da Virgem Maria para a revelação de Deus. Nestas paredes ficaram registrados os evangelhos. As pessoas não tinham acesso aos escritos, então reproduziam os fatos através de gravuras para poderem repassar a história aos seus descendentes. Elas também não tinham muito tempo de vida já que eram perseguidas logo que se convertiam. Assim surgiu uma parte importante da tradição da Igreja.

Na época em que Jesus veio ao mundo não tínhamos a imprensa, que foi inventada somente no século XV por Johannes Guttenberg. Isso de cara nos mostra que, pensando apenas no NT, os evangelhos ficaram por pelo menos mil e quinhentos anos sob custódia de poucas pessoas, divididos, guardados como relíquias sob a forma de vários rolos de papiro (geralmente pele de camelo que demorava dias para ficar pronta e vinha do Egito). Nos primeiros séculos, a cópia de um dos evangelhos poderia durar uma vida inteira para quem o estava copiando, pois usava-se uma pena com tinta (que demorava pra secar) para escrever e esperava-se um bom tempo até que se conseguisse outro pedaço de pele que seria o próximo capítulo ou versículo. Além disso o papiro era muito caro e quase toda a população era analfabeta. Acredita-se que quando foram escritos os originais dos evangelhos alguns evangelistas ditavam as palavras que deveriam ser escritas enquanto uma segunda pessoa o ia fazendo.

Anos mais tarde, várias fraternidades se dedicaram à tradução e cópia dos Testamentos. Esse processo já era mais dinâmico, no entanto a escrita ainda era à mão e o processo completo custava a acabar. Entretanto, conseguiu-se um avanço, que se deu graças à organização de um volume que contivesse os evangelhos fundamentais à prática da doutrina cristã e que tentasse manter os ensinamentos de Deus, que vieram por Jesus, em forma de palavras. Isso só se deu durante o Concílio de Nicéia no ano de 325 DC, ou seja, debateu-se por quase três séculos até que se chegou à conclusão de que iriam fazer parte da Bíblia TODOS os livros do Antigo Testamento e os quatro evangelhos canônicos atuais. Para quem não sabe, Bíblia quer dizer "coletânea de livros" e sem a Igreja Católica, protestante nenhum a teria para levar pro culto.

Muitas vezes nós já ouvimos protestantes dizendo: "Se está escrito então você deve seguir (literalmente) o que está escrito senão você irá para o inferno.", ou então "Você deve interpretar aquilo que está escrito ali (do seu modo) e adaptar aquelas palavras para a sua vida" (como se Deus dissesse algo diferente para cada pessoa, algo sem cabimento). Bem, é assim que vão surgindo seitas diferentes (já somam mais de cinquenta mil), com fachadas gritantes dizendo: "Deus está aqui", "A mão de Deus está aqui", "Templo dos Milagres!", "Só hoje: cura e libertação!". E cada um quer berrar mais alto pra vencer a "concorrência". Digo isso porque para a maioria das denominações cristãs, igreja é só um negócio. Mas isso vocês já sabem! Só tenho uma coisa a dizer: vão estudar, irmãozinhos! Uma coisa é sabida, quem estuda (de verdade), protestante não fica. Com tantos fatos históricos comprovados à respeito da instituição da Igreja por Cristo, da fundamentação da Igreja de Roma por Pedro e Paulo, da oração aos mortos do purgatório feita nas catacumbas, do tratamento de bem-aventurança (santidade) dado aos mártires, é impossível alguém que realmente venha a conhecer a verdadeira Igreja Católica deixada por Jesus Cristo, e não esse fantoche que bordam por aí travestido de um catolicismo falso, continuar no erro. Apesar de muitos distorcerem e darem opinião própria à verdade que somente Deus nos pode revelar através de Jesus, por meio do Espírito Santo, a verdade vive, e sempre viverá na Sua Igreja, pois o próprio Jesus é a verdade. 

Por isso a Igreja Católica não é só um livro. Por mais de quinze séculos nós nos esforçamos para manter à salvo as Sagradas Escrituras, pois não podíamos simplesmente colocar a Bíblia embaixo do braço e sair caminhando por aí, como fazem nossos irmãozinhos. Foram séculos mantendo a memória dos escritos mesmo eles não estando à mão. O que está escrito na Bíblia serve como memória, lembrança deixada pelo Pai. As pessoas morrem e as lembranças se vão com elas. Os apóstolos também morreram. Foi necessário que estas lembranças fossem repassadas às futuras gerações. Por isso a Tradição é tão importante.

Cristo é a Palavra Viva de Deus. Ele é o próprio Deus que se fez carne e veio habitar entre nós. Ele é o esposo, e a Igreja Sua esposa. Ele é a cabeça da Sua Igreja, e ela portanto é seu corpo, e vive da tradição. Por isso, devemos igual ou maior atenção à tradição do que à Bíblia. Pois a Palavra não está imóvel e grudada à folhas de papel. Ela não é feita de tinta, que se desmancha na água. Ela não é um sussurro do vento no tempo que já passou. Ela é a própria história, está viva, está no meio de nós, e se faz carne, e se sacrifica por nós todos os dias na Santa Eucaristia.

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